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Cheiros de que não gostamos

Postado às 10:56 do dia 09/12/11

Invariavelmente, quando ministro o Workshop de Aromas e Ambientes, onde os participantes têm oportunidade de inalar cerca de 30 odores bem diferentes entre si, todos se surpreendem ao constatar como um mesmo óleo essencial pode ser apaixonante para uns e odiento para outros.

Na minha experiência, os aromas cítricos e o aroma de capim-limão (e o da hortelã-pimenta também) são unânimes na preferência. É muito raro alguém detestar um aroma cítrico, embora eu tenha visto isto acontecer uma duas vezes.

Por outro lado, óleos essenciais de flores, de resinas e de madeiras geram as mais distintas opiniões. Parece improvável, mas sempre há pessoas que detestam o aroma da lavanda. Há aqueles que odeiam o aroma do jasmim. E aqueles que acham o cedro forte demais. Sim, sempre há os que amam de paixão a baunilha e aqueles que não a suportam mesmo na discrição de um bálsamo do peru. E, claro, ylang-ylang desperta desejo e repulsa violentos!

Então os alunos me perguntam: “Mayra, por que é assim? Por que a gente tem aversão a determinados cheiros?”

A primeira resposta é a mais fácil: porque este cheiro se liga a uma experiência desagradável. Todos concordam com a cabeça porque podem buscar na memória algum cheiro que detestam e relacioná-lo a algum trauma em suas vidas.

Entretanto, esta resposta nunca me deixou plenamente satisfeita. Os cheiros traumatizantes são bastante óbvios, mas e aqueles que as pessoas simplesmente não gostam e não conseguem relacionar com nenhuma memória ruim?

Parece que há uma pista na pesquisa que foi feita por Hiroaki Matsunami em 2009. Este pesquisador quis entender por que as pessoas sentem o aroma da androstenona diferentemente, seja como um aroma doce e floral, seja como à urina e por que há pessoas que não conseguem nem senti-lo. A androstenona é uma molécula presente em proporções consideráveis na urina e no suor de homens. Bem, o que o cara descobriu é que a maneira como as pessoas sentem a androstenona depende de terem um não uma mutação genética. Agora você suspira: “Ah, de novo a genética, Mayra?!” Sim, de novo ela determinando nossas experiências, fazer o quê?

Tomar conhecimento desta pesquisa me fez perceber que, talvez, a aversão que temos a determinados cheiros não se deve a uma experiência traumática com ele. Pelo contrário, são ruins porque são ruins para nossos narizes e ponto. Nada de ficarem dizendo que temos que vencer aquele trauma, que temos que fazer as pazes com aquele cheiro ruim. Achei esta história da mutação genética e da androstenona muito, muito interessante. (Para conhecer mais sobre como o olfato funciona, sugiro a leitura do livro O Cheiro das Coisas, de Bettina Malnic. Livro bacaninha pacas, vale a pena comprá-lo. É dele que tirei a história da androstenona.)

Por outro lado, esta teoria pode explicar nossas aversões, mas não invalida a experiência olfativa como coadjuvante da apreciação que fazemos dos cheiros. Constance Classen, autora do formidável livro Aroma, Uma História Cultural dos Odores, traz inúmeros relatos antropológicos de como os cheiros são vistos em várias comunidades não-ocidentais ou aborígenes. O ponto de sua tese é demonstrar que o apreciação de um aroma depende do que as pessoas valorizam em sua cultura. Assim, ela relata uma tribo da África onde todos utilizam urina e fezes bovinas, além de gordura bovina, para se embelezar em ritos e cerimônias. Para nós, parece improvável que urina possa ter um aroma agradável. Ou a cultura realmente altera o que pensamos ser bom em termos olfativos, ou todos daquela tribo teriam uma mutação genética que tornasse a urina agradável. Fica a questão.

Abraços de cheiro, Má.

PS: Para uma resenha com citações e comentários às melhores partes do livro O Cheiro das Coisas, acesse meu blog As Melhores Partes dos Livros que Li.

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