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No colo da mãe repleta de alegria – Anandamayi Ma

Postado às 22:03 do dia 21/02/10

Certa vez, quando jovem, entrei muito constrangida para fazer minha confissão na escola de freiras salesianas onde estudei até a faculdade, eu sorria, sorria muito para disfarçar meu acanhamento diante do padre – já nesta época eu me sentia bem deslocada de todo o contexto católico e sempre me achava culpada de não frequentar a missa de domingo. Então aquele padre, que estava recebendo adolescentes desde às 7h30 da manhã para serem absolvidos de seus pecados, disse-me:

” – Você está sorrindo?”

“- Sim, estou. Acho que fico sorrindo o tempo todo, Padre.” – respondi-lhe.

” – Continue sorrindo, sempre, pois assim você ilumina tudo ao seu redor.” – foi o comentário que ele me dez. Depois me lembro de ter ido à capela da escola para rezar tantas Ave-Marias.

Este episódio de minha adolescência estava enterrado nos recônditos da memória, quando li uma passagem do livro “Filhas da Deusa – As Mulheres Santas da Índia”, onde a autora Linda Johnsen traz os perfis de algumas das mulheres consideradas reencarnações diretas da Mãe Divina, arrebatando dezenas de milhares de devotos fiéis não apenas em seu país de origem, mas também na Europa e Estados Unidos, por onde mantem obras de caridade e ashrams.

A passagem em questão vem de uma destas santas, Anandamayi Ma, ou, numa tradução do sânscrito, a Mãe Repleta de Alegria. É a foto dela que você vê acima. (Para mais fotos de Anandamayi Ma e mais videos, acesse a Rede Casa Máy.) Leia a passagem que copio aqui:

“Sorria o mais que puder. Assim, todos os nós rígidos no seu corpo serão afrouxados. Tornando seus os interesses das outras pessoas, busque refúgio aos pés delas com total entrega. Então, você perceberá que o riso que flui do seu coração iluminará o mundo”Anandamayi Ma (in: Filhas da Deusa, de Linda Johsen – p. 91

A leitura do Filhas da Deusa me foi recomendada pela querida Angélica Ayres, a livreira por trás da Livraria Mahatma (Curitiba, PR). Devorei o livro em dois dias e me emocionei às lágrimas com ele por cinco vezes.

Primeiro, não imaginava quem eram estas mulheres indianas. Já tinha ouvido falar de Amma e seu famoso abraço, mas há muitas outras, tão abençoadas quanto esta e que estão entre os indianos como suas joias mais bem guardadas. Ou não, não sei, pois o que conhecemos de yoga por aqui é sobretudo por parte dos ensinamentos de mestres homens, talvez porque é coisa de ocidental escrever a história pela voz do masculino, mas, por lá, cair aos pés destas mães e deixar-se levar pelo amor e alegria de seus colos é algo corriqueiro, até mesmo para homens do porte de Mahatma Gandhi, que foi pessoalmente conhecer Anandamayi Ma – a que cito aqui – em 1942.

Em segundo lugar, a leitura deste livro veio na sequência de outro, que também me foi indicado por uma amiga, desta vez uma aluna dileta: Histórias de Mulheres, de Rosa Montero, jornalista espanhola, que traça miniperfis de mulheres que, pela Europa e Américas, desafiaram igualmente a sociedade machista com seus talentos, forças e personalidades. Entretanto, diferentemente das indianas, que tiveram igualmente que desafiar sociedades dominadas por homens, não lhes coube a libertação da vida espiritual, mas tão somente a loucura, o refúgio nas drogas ou num sanatório.

Muito curiosa esta comparação: o que resta às geniais mulheres do ocidente e às inebriadas pelo Divino na Índia. Curiosa também é a comparação entre as capas brasileira e norte-americanas do livro de Linda Johnsen. Enquanto nos Estados Unidos se optou por uma capa com a foto de uma destas mulheres em samadhi, a edição brasileira optou pela foto de uma indiana com magníficos olhos pintados, mais preparada para dançar que para meditar. (Fazer o quê? Lamento que Caminho das Índias tenha moldado o que achamos que seja a Índia e as indianas…)

 

Além de Anandamayi Ma, o livro traz os perfis de Sri Ma de Kamakhya, Anandi Ma, Gurumayi Chidvilasananda, Ma Yoga Shakti e Ammachi, além de um glossário e uma discussão sobre a personificação do divino feminino na cultura védica-hinduísta.

A leitura vale muitíssimo a pena e espero colocar mais fotos e videos, de todas as biografadas, lá na Rede Casa Máy, para podermos mergulhar no colo destas mães.

Namaste, Mayra.

Video com imagens e citações de Anandamayi Ma [10:00 min]:

Para mais vídeos sobre Anandamayi Ma, acesse minha lista de reprodução “Mulheres Santas na Índia” no You Tube.

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